Porém, o caminho não é fácil. As mulheres relataram as dificuldades em conciliar a aprendizagem com a vida doméstica e produtiva.

“Muitos desafios, nós mamãs as preocupações são muitas, porque tem de dividir o tempo: uma hora na escola, depois cuidar das crianças e ir à praça para conseguir levar alguma coisa em casa. Mas ainda assim, estamos a continuar. Às vezes mesmo que o professor ainda não terminou, mas você já está com a pasta pronta para correr, porque tem de chegar à praça e conseguir algum negócio para vender, senão as crianças não comem”, contou uma das participantes.

O depoimento reflecte a tripla carga que recai sobre estas mulheres – doméstica, produtiva e educativa. Mesmo sentadas nas salas de aula, confessam que “o coração fica fora”, pela incerteza de não saber se os filhos comeram ou foram à escola. Muitas vezes, precisam abandonar as aulas antes do fim para garantir a sobrevivência diária.

Apesar das limitações, a determinação em aprender é evidente. A alfabetização surge como uma ferramenta de emancipação, capaz de abrir portas e devolver a confiança. Os relatos apontam ainda para a urgência de políticas e programas mais sensíveis ao género, que adaptem horários, metodologias e que incluam apoios como cantinas comunitárias ou serviços de cuidado infantil. Igualmente importante é o envolvimento dos homens e das famílias, para redistribuir as responsabilidades e aliviar a pressão que recai exclusivamente sobre as mulheres.

No Bié, estas vozes revelam a resiliência de quem, mesmo sobrecarregada, insiste em estudar. Um esforço que, mais do que pessoal, representa um investimento colectivo no futuro da educação em Angola.

Este processo de auscultação demonstra o compromisso do PAT II em ouvir as vozes da base para garantir que as suas acções de salvaguarda social e educativa estejam alinhadas com as realidades e as expectativas das comunidades que serve. As informações recolhidas no Bié servirão como um valioso contributo para o aperfeiçoamento das políticas e a optimização dos recursos do projecto, assegurando um futuro mais promissor para a educação em Angola.

O PAT II é um projecto implmentado pelo Ministério da Educação com financiamento do Banco Mundial, desde 2022, reforçando o compromisso do Governo angolano com a melhoria da qualidade do ensino, a retenção de raparigas nas escolas, a redução do abandono escolar e a garantia de educação de segunda oportunidade para jovens e adultos contribuindo para a construção de um futuro mais robusto para o país.